É comum que a prática de exercícios exaustivos causem adaptações morfológicas e/ou funcionais, podendo ocasionar em processos inflamatórios, com um acometimento de dor muscular de inicio tardio (DMIT) e/ou diminuição da performance (Barquilha et al, 2010). Esse processo é natural do organismo, sendo uma adaptação do organismo. Porém, é comum que profissionais voltados a esportes de alta performance busquem ferramentas para acelerar a recuperação muscular dos atletas, com o intuito de diminuir o processo inflamatório, sendo que crioterapia ainda utilizado em algumas modalidades esportivas.
A crioterapia se baseia na imersão em água gelada (entre 10° a 15°), tendo o propósito de reduzir o processo inflamatório, edema (inchaço), a formação de hematoma e também reduzir a dor. O gelo age no fuso muscular e no órgão tendinoso de golgi, provocando uma redução na velocidade de condução nervosa. É importante salientar que uma sobrecarga na realização de exercícios após a crioterapia pode levar a um novo quadro de lesão muscular, devido ao fato do controle motor está com o seu limiar alterado. Estudos indicam que existe uma correlação entre dor e rigidez articular e entre dor e função, sugerindo que o alívio da dor está diretamente relacionado com ganhos da função.
Discussão
Brancaccio et al (2005) encontrou um maior aumento no número de leucócitos, neutrófilos e macrófagos em ratos treinados com lesão muscular e crioterapia (TC) quando comparado com ratos treinados sem crioterapia (TSC), além de menor edema e uma menor desorganização das fibras musculares quando comparado com o grupo TSC.
Leite et al (2009) verificou o efeito da crioterapia após a realização de uma partida de futebol, encontrando um menor aumento nos marcadores indireto de dano muscular (creatina quinase(CK), mioglobina (MB) e DOMS) e uma menor diminuição na performance muscular (salto vertical, sprint de 20ms e força isométrica). Já Selwood et al (2007) não encontraram efeito positivo da crioterapia na CK, DOMS, teste isométrico e de desempenho após a realização de um protocolo de exercícios excêntricos. Corroborando com este resultado, Goodall e Howatson (2008) também não encontraram efeito positivo da crioterapia na concentração de CK, DOMS e força isométrica após um protocolo de exercício pliométrico intenso.
Com relação a concentração de lactato, Baroni et al (2010) analisaram o efeito da crioterapia de imersão sobre a remoção do lactato sanguíneo após exercício de alta intensidade. Foi observado que a recuperação passiva apresentou decréscimo significativo da concentração de lactato enquanto o mesmo não foi verificado com a crioterapia. A crioterapia de imersão, nos parâmetros adotados pelo estudo, apresentou-se menos efetiva que repouso para a remoção do lactato sanguíneo após exercício de alta intensidade.
Estudos de revisão citam que não se pode afirmar de maneira conclusiva a eficácia do tratamento com crioterapia após a prática de uma atividade física exaustiva (Barnett, 2006). Essa afirmação é corroborada pelos resultados apresentados acima. Esses resultados contraditórios devem-se as diferentes metodologias utilizadas nas pesquisas, como temperatura e tempo de exposição ao gelo, modalidade de exercício utilizado, nível de treinamento dos voluntários, entre outras variáveis.
Cabe a cada profissional envolvido com treinamento de alto nível que tire suas próprias conclusões. Parece mais sensato que se utilize a crioterapia primeiramente em momentos não competitivos, e que se observe a resposta de cada atleta a este método, lembrando que cada organismo pode responder de uma maneira a um mesmo estimulo.
REFERÊNCIASBarnett A. Using recovery modalities between training sessions in elite athletes: does it help?. Sports Med 36:781-796, 2006.
Barquilha, G.; Moura, N. R.; dos Reis, S.A, Uchida, M.C. ; Bortolon J.R ; Freitas Junior, P.B ; Hirabara, S.M . Aumento da concentração de Il-6 e atividades de CK e LDH do sangue, após sessão de exercícios para hipertrofia muscular. III Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e Exercício, Londrina, 2010.
Brancaccio et al, 2005. Análise de lesão muscular em ratos treinados e sedentários submetidos a crioterapia. Fisioterapia em Movimento, 18(1), p. 59-65, 2005.
Goodall, S.; Howatson, G. The effects of multiple cold water immersions on indices of muscle damage. Journal of Sports Science and Medicine, 7, 235-241, 2008.
Leite, M.A. efeito da crioterapia na recuperação das alterações na performance física e de indicadores de lesão muscular induzida por um único jogo de futebol. Dissertação de 2° ciclo apresentada á faculdade de desporto da universidade do Porto. 2009
Silva et al, 2007. Estudo comparativo entre a aplicação de Crioterapia, cinesioterapia e ondas curtas no Tratamento da osteoartrite de joelho. Acta Ortop Bras 15 (4) 2007.
Sellwood KL, Brukner P, Williams D, Nicol A, Hinman 12. R. Ice-water immersion and delayed-onset muscle soreness: a randomized controlled trial. Br J Sports Méd. 41(6): 392-397 2007.
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